quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A Virgem, O Músico e A Puta

α

A música não existia, foi então que eu a criei. O amor virava poesia: eu o compus e musiquei. A lira de minhas mãos – e daquele que, para mim, merecia – já mil sonhos trouxe aos que o dom da ebriedade eu dei. Agora, o real dom – do suspiro, do amor-em-verdade – parece que a mim não cabia... o vento leste tirou de mim o único homem que amei.
O sol brilhava ao meu mando em minha carruagem dourada. A luz, a vida e o mundo dos sons eu trazia, e por nada.
Os raios que então emanavam viam tudo na face da Terra: as musas, os rios e os nenéns trazidos a tiracolo. Não cedo, mas não obstante, crescia a tal “sociedade”. Ingrata segundo alguns deuses, mas é deles a humanidade... não ligo se adoram Alá, se lembram ou esquecem de Apolo. Só quero lembrar do crepúsculo mais milagroso da história – embora, até então, eu não saberia dizer se fora divino de fato. Sabia, somente, que eu amaria ainda outra vez em memória. E soube, após os milênios, chamá-la Virgem Maria.
Os sonhos também eram meus, e o sonho surgiu em punjança. Chamaram – desse caso de amor – diversos: “Divina Criança”, “Fruto dos Céus” e de “Cristo”, mas a mim era somente “O Filho”. Mais poderes que todos eu o dei, e ainda além que devia. De pronto, não me controlei: foi a força de uma paixão que saía. Foi ela, e sempre será, eu sei: a minha eterna Maria. E ele, principalmente para a desfortunada maioria, um presente aos carentes: a tão necessária (e sonhada) esperança.

β

Quem é o tal Rei dos Reis? O homem que cruza montanhas e planícies afim da paz e da vitória humana. Quer salvação, diz ele, mas eu detesto falsidade. Será ele mesmo capaz de tal perfeição? Não acho.
Acho, sim, que é um grande: filósofo, político, líder e outras coisas mais que acharia indelicado dizer... por questões éticas e religiosas (não minhas, já que abandonei ambas no momento em que me disse[ram] puta).
Admiro-o? Com toda a certeza que meus pulmões e voz (e ventre tocado-pelo-sol, como diriam os antigos) deixam-me capaz de ter.
O tal Sol em Terra já criança se mostrava louvável: dava vida a miniaturas de barro, um garoto travesso (ao que me disseram). Nascido de uma dita virgem, o mínimo que se esperava era alguma equiparagem mística ao garoto.
Dizem ele, hoje, filho de Deus. Posso assegurá-los estarem completamente... corretos, os que o fazem, mas eu não digo. Não digo porque eles, todos homens hipócritas e iludidos, pensam ter a versão correta do tal divino. Nego que poderiam estar mais equivocados, os pobres.
Enfim, sem mais biografia de Cristo, uma vez que pela maneira como andam as coisas haverão inúmeros tomos dedicados a isso: eu, de primeira vez, encontrei o Homem em uma tarde despretensiosa. Tive de acompanhar meu pai à marcenaria, e o pedido foi feito ao próprio Senhor (não que eu o soubesse sê-lo na época). Uma cadeira, item básico, havia quebrado em casa. Devido, pois, a um certo surto que eu administrei ao ver uma briga de casal que resultou em agressão física à minha santíssima mãe. Não aguentava os abusos que ela sofria em nome ao ―matrimônio sagrado‖ e ―direito de superioridade do homem‖... eu simplesmente não engulia aquela história.
Mas me mantive calada. Culpei à quebra meu peso e a velhice da madeira, além de acusar rachaduras que não existiam.
Pois, na marcenaria, pude observar (de longe e fora da visão d’Ele, a mando de meu pai) o Divino trabalhando o material com um talento indiscritível. Pouco mais de metade de uma hora foi necessária para ele nos entregar, da madeira bruta, um assento digno dos mais nobres saduceus – partido político dominante da época. Floreios, entalhos e um estranho brilho corriam por seu assento e encosto, encabeçados pelo sol conhecido como a assinatura d’Aquele que nos entregava o trabalho. Caso nutrisse medo de ser tratada como lunática, não diria, mas digo: estava certa de tê-lo ouvido assoviar alguma música enquanto laborava, embora seus lábios estivessem selados.
Instigada, aproveitei o primeiro momento que meu pai virou-se à nossa casa para me aproximar do Nobre Marceneiro que tanto exibia:
— Senhor, quantos anos possui? Tanta graça e habilidade em teu ofício, e ainda mora sem companhia. Deve certamente ser novo, sim?
Seus olhos pareceram brilhar levemente e num tom que lembrava o alvorecer, quando dirigiu-se a mim (de fato, parecia era estar se dirigindo através de mim, por mais que isso parecesse-me estranho à época e, sinceramente, ainda me instigue):
— Vinte e nove sóis já fizeram seu ciclo anual ao meu redor, Madalena.
Pois eu tinha certeza de que não o havia dito meu nome, tampouco encontrado-o anteriormente. Do que se tratava aquilo?
— Saiba que o futuro curto trará-te felicidade, porém constará em distantes épocas como pouco mais que uma puta, Maria. É isso que posso contar-te.
— Pois não pedi-te qualquer advinha ou clarividência, marceneiro. E por que tais frases tão estranhas te saem?
Logo esqueci do porquê de tê-lo abordado, estranho que foi aquele curto diálogo. Antes que pudesse ouvir qualquer resposta (não que ele estivesse ansioso em dizê-las, uma vez que transbordava calma e consciência transcendentais... juntas de um irritante misticismo que eu achava simplesmente desnecessário), chamou-me meu pai:
— Menina, pois anda-te logo! Acha já paga a cadeira que quebraste? Vá à casa, há pó e deveres a serem eliminados. Vá!
E fui. Quando olhei para trás (pois olhei!) o tal homem que nos atendera – e de quem eu só aprenderia o nome ser Jesus ao fisgá-lo partindo duma frase solta de meu pai à minha amada mãe quando em casa – parecia não ter trocado palavra sequer comigo. Olhos castanhos – ou seja, sem aquele brilhar anormal de quando trocamos palavras – e uma compostura um tanto desenvolta demais construíam então aquele enigmático ser... que não virou mais um mero olhar para mim.
E mesmo voltando a visão à porta (com toda a dificuldade e esforço que fora tirar os olhos daquele intenso homem simples), podia jurar por Jeová estar escutando alguma melodia.
Esse primeiro encontro me tirou um tanto dos eixos, posso confessar. Não por qualquer motivo íntimo, mas por irritação: era em demasia uma incógnita aquele homem, e suas frases ao mesmo tempo que provocavam calma despertavam-me uma curiosidade esquisita. Parecia, assim, que qualquer
questionamento dirigido a ele traria uma multiguidade do gênero: iluminação, equilíbrio, inquietação e um leve desespero.
Pois, esquisita? Não... era uma curiosidade perigosa.
Naquela noite, dormi um descanso pesado que não experimentara já havia muitos anos. Sonhei:

φ

Estou num campo verde com um sol de meio-dia que sei que nunca tentará se esconder atrás do horizonte, eterno. Ao meu redor, mulheres dançam. Vestem menos que o permitido, e descubro suas vestes serem feitas de plantas. Cantam uma música em qualquer língua que eu não compreendo, mas que me deixa calma.
Sinto-me mais quente, sem saber por quê. Olho para cima e o sol parece ter dobrado de tamanho. Percebo que está se aproximando, cada vez mais próximo do chão.
Começo a sentir-me quente por dentro, e de repente o sol me parece um estranho jeito de belo. Passo a querer que se aproxime, a querer seu contato e toque. A música das mulheres cessa, e eu só percebo tarde demais para sentir a relevância do fato. Já não preciso de suas músicas para acalmar-me.
O sol já está cobrindo metade do meu zênite, e meu subversivo afeto por ele é grotescamente colosso. Parece-me que a única coisa que eu devo fazer em toda minha existência é senti-lo próximo a mim, e sinto ser aquele exato instante o único momento para tal. Uma sensação de urgência e aflição percorre meu corpo, e eu tento imitar as gaivotas que cruzam os mares com tanta facilidade. Pulo e bato os braços para alcançar o céu, mas sem sucesso.
A urgência é reposta por uma calma divina, que faz-me ter certeza que o sol eventualmente chegará a mim. Eu espero.
Espero, até que ele finalmente se aproxima. E continua.
Ele fica perto demais, e eu quero beijá-lo. Está perto demais e começa a me queimar. Está perto demais, encosta em minha testa e eu o beijo. O sol está perto demais, e quando eu o amo ele me queima por dentro e por fora, e eu sou absorvida por seu calor.
O sol está perto demais, tão perto que eu deixo de existir.

Φ

Acordei naquela manhã com lágrimas quentes nos olhos. O desjejum foi, por mim, consumido em poucos instantes e minha pressa de deixar a casa fez-me mal perceber o caminho que me levava ao campo. Pela primeira vez em minha vida – e sabia muito bem o que isso custaria quando eu voltasse para casa – parti à labuta campestre sem meu pai ou algum irmão.
Passando o sofrível número de horas que passei trabalhando o trigo (colheita, debulho, moenda) senti uma súbita sede. Precisava sorver-me largos goles de qualquer afluente do grande Jordão o quanto antes, ou tinha certeza que
morreria. Uma urgência um tanto incomum, eu ponderei... mas não menos real por conta disso.
Ao me aproximar do riacho, vi uma figura de cócoras desenhando algo no barro marginal que limitava a correnteza. Segurava um graveto, e cabelos castanhos caíam sobre seus olhos brilhantes. Brilhantes não de lágrimas ou por qualquer lamparina, mas como se algo queimasse por dentro. Rapidamente reconheci o marceneiro, Jesus.
Perguntei, atrevida, a Ele:
— O que faz aqui, longe? Não possui um ofício a cuidar?
— Minha madeira não é melhor ou pior se sou eu quem a trabalho. A madeira das árvores é fruto de Gaia, e a todos os homens Hefesto deu o dom das mãos. Quem assim desejar as usa como bem entender. Não interfirei mais em tais trabalhos. Eu, Jesus Cristo, passarei a realizar feitos que serão escritos em livros, para então serem comemorados meu nascimento, meu ministério e a minha morte. As celebrações perderão sua essência, mas eu irei continuar na inconsciência e consciência de todos os que sobre a Terra insistirem em andar.
Novamente, frases desconexas e sem relação com o que eu inquiri saem da boca daquele homem. Todo um discurso saindo dele, e em nenhum momento dirigiu o olhar à minha pessoa – só observava as cenas que ele próprio desenhava no barro: uma espécie de mapa similar aos dos livros de meu pai. Além de incógnita era rude, a criatura que não me achava digna de resposta?
Eu não era obrigada:
— Pois, já cansei. Fale direito comigo, homem. O que lhe há?
— Me há o destino das gerações, o futuro.
— Além de ineducado é prepotente, ó marceneiro? Me olhe nos olhos!
E, quando ele o fez, eu o vi. Vi seus olhos. Pareciam transcender a existência, passar por mim e ler o que eu faria, fiz e farei. Ele se pôs de pé, sim... e passou a falar diretamente comigo.
— Ineducação é uma das últimas características de Jesus Cristo. Não ouse.
— Não há necessidade de toda essa pompa, homem! Fale comigo de modo correto.
— Madalena... não entende? Não pertenço à humanidade. E não digo por motivos egocêntricos, não: por conhecimento do que irá acontecer. E logo.
— Não me cabem esses seus conhecimentos e vidências.
— Ah, sim? Pois acha que é-me simples o destino?
— Acho que muito do mundo é simples, ao mesmo que muito é complicado. Eu não compreendo muito do que você conta, tenho em exemplo, mas consigo vagamente compreender você. É alguém com muito em mente, sim, e muito por dentro também. Mas conflitam em ti essências distintas, talvez.
— Oras, isso é tão bom quanto pode-se ser a compreensão de uma mortal.
Seus olhos estavam mais próximos, quentes. Faziam-me sentir aquecida, aconchegante... confortável. Não pararam de brilhar por nenhum instante. Pela primeira vez percebi que não conseguia enxergar sua íris, não conseguia determinar uma cor exata aos seus olhos. E, pela primeira vez, percebi devidamente o quão bonito era o homem.
Nenhuma palavra foi dita durante segundos que pareceram algumas décadas. Calor e frio corriam por mim, e podia sentir meus pêlos eriçando.
Quando nos amamos, foi com a força do amanhecer, a sublimeza do crepúsculo e o calor de um deserto.
Após aqueles tórridos momentos, voltei – hipnotizada, quase – ao campo trabalhar o trigo.
Ao final de minhas tarefas campestres e então caseiras, cumprimentei meus pais – um abraço demorado em minha mãe e um beijo rapidíssimo na face esquerda do homem que me semeou – e apaguei a candeia ao lado da cama para então deitar. O que não consegui apagar foram as imagens do Homem, ou as sensações que ele me trazia.
O sonho veio instantâneo após o fechar de meus olhos:

φ

Estou em qualquer lugar que não consigo enxergar. Abro os olhos infinitas vezes, nada vejo. Escuro.
A luz passa a existir, e meus olhos parecem abrir uma última vez.
É um salão estranho, com figuras estranhas que tocam harpa. São homens, parecem-me, e o salão é uma casa de banhos. Água escorre pelas paredes em espelhos mais perfeitos que a prata e há uma fonte no centro. Um homem pequeno e de cabelos encaracolados – feito de mármore, bom ressaltar – cospe algo amarelado na tal fonte. Penso que é urina, mas ao me aproximar percebo cheiro nenhum. Toco no líquido e constato ser água, nada mais. Pergunto-me o porquê de a água ser amarelada, e a resposta ofusca minha visão. Está além, muito além, e sua distância e posição me fazem perceber duas coisas. Primeiramente: estou em algum lugar altíssimo, visto que o sol está sobre as nuvens e abaixo delas não enxergo nada. Segundo: minha cabeça trouxe-me a algum lugar de arquitetura assaz curiosa. A luz que embaça minha visão vem detrás de colunas arredondadas e gigantescas, com floreios nas extremidades. O teto é perfeitamente plano e reto, porém (nos lugares em que encontra a parede à direita de onde vejo o sol, feita do que parece ser gesso) ele exibe alguns floreios. Observo figuras esculpidas na tal parede. Penso ter uma vaga noção do que representam as figuras, mas nada me vem à cabeça: um homem barbado segurando algo parecido a uma enxada, mas com três dentes no lugar da lâmina; outro homem segurando um crânio d’onde saem três cobras, com a cabeça calçada num elmo que eu sabia ser negro se coloridos fossem aqueles detalhes; no centro de ambos, outro homem barbado mais alto, com pêlos faciais até o umbigo e segurando algo que se posicionava como um bastão, porém mais longo nas pontas que no centro e que ziguezagueava pela parede. De pronto, sei que se encontrasse algum daqueles homens deveria tratar com cuidado.
Antes que pudesse lembrar, de fato, de onde os reconhecia, ouço passos às minhas costas. Me torno a favor do sol para observar. Vejo três mulheres, às quais não consigo assinalar uma forma factual. Num momento me parecem conhecidas e familiares, no outro estranhas e monstruosas. Diz-me a da esquerda, com o rosto de uma velha: “Quem é a madame que finalmente é convidada ao Olimpo?” quando a do centro complementa aparentando ser uma pequena criança: “Sim, finalmente, sim! Há tantas Eras que não vem qualquer um para cá, homem, mulher ou criança!”, ao que a última termina, de aparência suave e austera: “Não que não
saibamos quem é ou o porquê de ter vindo, Maria Madalena. Nossa surpresa é só um teatro para lhe ilustrar o quão incomum é sua presença, mas de fato sabemos do que foi, é e será.”. Confusa, pergunto: “Mas onde estou? É-me estranho tudo aqui, por mais que pareça tão confortável e caseiro. Não faço ideia do que seja Olimpo, por exemplo, mas estou certa de já ter escutado esta palavra num momento anterior.”. A primeira é aflita em responder perguntando, feita uma gata negra: “Pois será que já vieste aqui, garota?”, e a segunda, uma tigresa: “Ah, mas todos passam pelas terras divinas ao nascer, menina! Pois passam, e você passou, oh sim!”, quando a da direita conclui, furtiva: “Não é surpresa a mortal algum a essência olimpiana, pois todos carregam um pedaço do Monte consigo.”.
Peço: “Por favor, parem com esses joguetes. Não me contento com enigmas, mas com explicações: o que faço aqui, e como fui convidada?”.
As três se unem, formando uma trissomia de vozes e tornando-se o dobro de minha altura, uma mulher forte de seis braços segurando um novelo de lã em cada braço num dos lados e uma agulha n’outro: “Maria Madalena de Nazaré, é uma menina amada, e não podemos ter romances, não é mesmo? Não, não podemos! Deuses e semideuses já fizeram estrago demais no que os helenos chamaram de Tempo dos Herois, e suas mulheres foram a maior causa! As Moiras não permitirão que você devaste o luminoso caminho do Último Semideus, o cultuado e amado Jesus Cristo!”. As agulhas, como se sempre assim fossem, parecem-me como espadas. Se aproximam, e quando a distância é suficiente para eu sentir o odor do metal, uma voz forte pigarreia pelo salão. O bronzeado das armas passa a reluzir ferozmente, parado em sua posição. Eu não ouso virar de costas à criatura.
“Vocês não farão isso, destinos. Eu não permitirei.”, eu ouço atrás de mim. Não me viro, mas a tensão começa a ir embora. As três são novamente três: uma jovem de cabelos castanhos, um idoso e alguém que transparece muita sabedoria. As espadas, ao tombarem no chão, fundem-se incandescentes ao mármore. Penso poder finalmente me virar.
Olho o sol nos olhos. Não o sol com o qual já sonhara: um mais antigo, mais poderoso. Menos apaixonante, mas não menos instigante. Acho seguro perguntá-lo: “O que faço aqui? Quem são vocês, eu suplico! Sinto-me como em sonho, mas também como se estivesse acordada. O que se passa?”
Ele responde com a voz mais bela que eu já ouviria em toda a vida: “Você está em sonho, sim, mas o sonho mais real que jamais terá. Em sonho porque aqui são meus domínios, embora eu já o tenha doado para outrém... não que isso realmente importe – e é por esse motivo, pela desimportância, que lhe convoco. Sabe, não lhe explicarei todo o contexto e história que nos trouxeram àqui por conta de não ser de seu interesse ou compreensão, mas deve saber que somos de uma espécie em decadência. Somos responsáveis por toda a realidade – toda! –e agora os únicos que nos são devotos somente louvam em troca de vitórias, conquistas e poder – malditos sejam os romanos que nós, gregos, originamos e que estupraram a mãe como nenhum Édipo jamais ousou fazer. Agora, se ao destino aprouver, podemos ainda continuar na mente dos homens. Com outros nomes e ídolos, sim, mas continuaremos. Meus sonhos proféticos dizem que meu filho – Jesus Cristo, sim – passará por grandes provas e iluminações, e você deve entender muito bem que ele... ele se trata de um espécime diferente de ser. É patologicamente bom e justo, e todos assim notarão nele a essência divina. Por sua região de nascença e ministério, inevitavelmente confundirão a essência d’Olimpo
com a judaica... o que resultará em toda uma nova religião. O que lhe peço, Maria – e sei que o fará, pois assim o destino me conta – é que se livre de meu filho e deixe-o passar como adepto ao celibato. Não aceitarão-o como Deus se apresentar descendência e matrimônio. Não terá força o... mito de Cristo. E a humanidade necessita disto, deste mito. Dessa esperança. Eu lhe imploro, Madalena. Me desculpe, mas é necessário. Ele não se lembrará da união de vocês, uma vez que qualquer encontro ocorreu quando meu filho estava em... estado de oráculo, se você puder compreender o que isso significa. Se não, saiba só guardar o amor de Cristo e sua sabedoria consigo, e tome a decisão correta e cabível.”
Eu não respondo.
O sol comenta com as três mulheres – ou uma? – quando pensa que eu já parti: “Afrodite me deve severas explicações. Isso que aconteceu não tem cabimento. Essa paixão, assim, repentina? Com um filho meu, ainda?”.

Φ

Acordei sorrindo, mas com lágrimas no rosto. Lágrimas frias que sequer ousaram chegar a minha boca: meu sorriso forte as desviou. Uma melancolia tomou conta de mim, mas não substituiu a paz e serenidade que aquele sonho me incumbira.
Semanas se passaram desde então, e agora estou observando flores em um campo. É o trigésimo aniversário de Cristo! O evito desde então, e ele não parece sentir muito minha falta. Os sonhos que tenho dizem-me que ele logo começará seu ministério. Escrevo este relato com as palavras que aprendi nos livros de meu pai. Não acho que o Homem deva nada a mim, tampouco eu a Ele. Só penso que um dia, talvez, alguém esteja pronto para saber o que houve. Talvez nunca estejam – o que, sincero, é extremamente mais provável. Se estiverem, bem, estará em um vaso, bem enterrado.
Meu sangue não chegou na data esperada.
Quero nomear a Filha de Jesus Cristo... de Sara. E assim será.
E assim sempre foi (e deveria ser, me parece).
Eu amo o Senhor, e ele ama a todos – e a mim, sim –, incondicional. Para mim, é o suficiente.

Ω

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